Estudo propõe a interação entre mecanismos fisiológicos e perceptivos da fadiga

A fadiga é um elemento importante a ser compreendido tanto em termos de rendimento esportivo quanto para a melhoria da qualidade de vida de pessoas acometidas por determinadas enfermidades. Embora esse tema seja um dos campos de estudos mais tradicionais dentro da Educação Física e Esporte, os mecanismos que levam à interrupção do exercício exaustivo ainda não são totalmente compreendidos. Em síntese, os principais modelos teóricos propõem uma abordagem binária do fenômeno, explicando a fadiga por mecanismos exclusivamente fisiológicos ou perceptivos. 

Em artigo de revisão publicado no European Journal of Applied Physiology, o Grupo de Estudos em Desempenho Aeróbio da USP (GEDAE-USP) propõe uma análise transicional ao tema, abordando a interação entre os dois mecanismos. O estudo contou com as colaborações do Prof. Dr. Adriano E. Lima-Silva (UTFPR) e Prof. Dr. Marcos D. Silva-Cavalcante (UFAL). As revisões de literatura veiculadas nessa revista são produzidas apenas a convite dos editores que acreditam que os pesquisadores deram contribuições relevantes para um campo específico do saber. 

Foram analisados dados de voluntários praticantes da modalidade em provas simuladas no laboratório. Foto: Cecília Bastos

O pesquisador Rafael Azevedo, autor principal do artigo, orientado pelo Prof. Dr. Rômulo Bertuzzi, sugere que o desenvolvimento da fadiga ao longo do exercício predominantemente aeróbio possui uma característica transitória de fisiológica para perceptiva. Os dados analisados foram coletados em provas simuladas de 4 km de ciclismo, realizadas no Laboratório de Determinantes Energéticos de Desempenho Esportivo (LADESP - EEFE/USP) por voluntários praticantes da modalidade. 

Os aspectos fisiológicos da fadiga foram determinados a partir de estímulos elétricos aplicados no músculo esquelético do ciclista. Já os aspectos perceptivos foram mensurados a partir da escala de percepção de esforço (escala de Borg) que atribui um valor para sensação de esforço entre "muito fácil" e "exaustivo". De acordo com os dados obtidos, a fadiga no início da prática está relacionada aos processos fisiológicos do organismo. Ao longo do esforço, essa contribuição fisiológica é mantida, ao passo que a percepção do esforço aumenta. 

De acordo com o estudo, a fadiga parece ser determinada predominantemente por fatores fisiológicos no início do exercício e por fatores perceptivos a medida que o exercício se desenvolve

Essa conclusão pode auxiliar no planejamento do treino dos atletas. Por exemplo, se em determinada competição a fase inicial é a mais importante, o treinador poderia enfatizar estratégias com atuações prioritariamente fisiológicas, como a utilização de suplementos ou treinamentos físicos. Se a ideia é focar na parte final da prova, intervenções capazes de atuar na percepção da fadiga (música, por exemplo), poderiam ser implementadas.

De acordo com o docente, muito ainda deve ser explorado em relação ao modelo, inclusive sua aplicação a outras modalidades ou as suas implicações fora do contexto esportivo - em doenças como o câncer, por exemplo. A revisão abre caminho para a melhor compreensão do assunto ao trazer à tona uma perspectiva não-binária da fadiga, levando em consideração a interação entre os aspectos fisiológicos e perceptivos. 

Mais informações em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33389141/

 

Editoria

Desenvolvido por EEFE-USP