Exercício físico previne alterações mitocondriais e melhora capacidade física em ratos hipertensos

A progressão da hipertensão arterial pode levar ao quadro de insuficiência cardíaca, principal causa de morte no mundo. A condição reduz a eficiência do coração em bombear o sangue, diminuindo a irrigação sanguínea para os diversos tecidos do corpo humano. No músculo esquelético, isso pode culminar na miopatia, cujo sintoma principal é a intolerância ao esforço físico, dificultando atividades cotidianas como subir escadas ou caminhar por distâncias mais extensas.
 
A condição diminui a qualidade de vida do paciente e sua expectativa de vida. Diversos estudos já demonstraram que o treinamento físico aeróbio é capaz de prevenir a disfunção músculo esquelética e melhorar a tolerância ao esforço físico. Mas os mecanismos moleculares envolvidos entre o treinamento e as alterações provocadas pela insuficiência cardíaca ainda não estão totalmente esclarecidos. 
 

Um estudo com autoria principal do mestrando Bruno Rocha de Avila Pelozin, orientado pelo Prof. Dr. Tiago Fernandes, da EEFE-USP, visa elucidar uma parte dessa relação. A pesquisa foi feita por meio da observação de ratos hipertensos e normotensos, e trouxe importantes conclusões sobre o impacto do treinamento físico no organismo e como este pode auxiliar nos sintomas causados pela doença.

Testes em animais hipertensos e saudáveis

Os 30 ratos participantes do estudo foram divididos entre espécimes normotensos sedentários, hipertensos sedentários e hipertensos treinados. O último grupo foi submetido a sessões de natação de 60 minutos, cinco vezes por semana. Após o período de dez semanas, avaliou-se: pressão arterial, função cardíaca, consumo de oxigênio (VO2 pico) e alterações metabólicas.

Após o período de dez semanas, avaliou-se: pressão arterial, função cardíaca, consumo de oxigênio (VO2 pico) e alterações metabólicas.

Os animais sedentários com Insuficiência Cardíaca apresentaram os menores valores de VO2 Pico, medida relacionada à capacidade física, e obtiveram as menores distâncias no teste máximo de esforço. Por outro lado, os animais hipertensos que realizaram o treinamento apresentaram valores maiores para os dois marcadores em relação a ambos os grupos sedentários (normotensos e hipertensos).

Restabelecimento dos padrões após o exercício físico

Os resultados indicaram que a intolerância ao esforço causada pela Insuficiência Cardíaca foi responsável por diversas alterações mitocondriais, que afetam a produção de energia do organismo. Por outro lado, o treinamento preveniu essas alterações funcionais e mitocondriais e melhorou a tolerância ao esforço físico. Além disso, os ratos treinados apresentaram diminuição no nível de pressão arterial e de disfunção cardíaca em comparação aos hipertensos sedentários. 

A intolerância ao esforço causada pela Insuficiência Cardíaca foi responsável por diversas alterações mitocondriais. Foto: Paula Bassi

Esses efeitos do treinamento no organismo podem ser identificados por meio dos miRNAs, moléculas com função regulatória fundamental para o metabolismo. Para estudar os possíveis mecanismos moleculares nessa equação, os pesquisadores realizaram um mapeamento de três miRNAs que apresentaram alteração nos ratos com Insuficiência Cardíaca. O mapeamento demonstrou que essas moléculas tiveram seus padrões restabelecidos após o treinamento. 

A fim de explorar a perspectiva prática da pesquisa, foram também realizadas análises em humanos com Insuficiência Cardíaca, com e sem treinamento físico aeróbio. Foram encontradas alterações nos mesmos miRNAs, o que indica que essas moléculas são, de fato, importantes para a regulação mitocondrial/metabólica, inclusive em humanos. As informações obtidas podem fornecer subsídios para futuros estudos de natureza farmacológica.

Trabalho Premiado em Congresso

Trabalho recebeu Prêmio  no XXX Congresso da Sociedade Brasileira de Hipertensão. Na foto, o mestrando Bruno Rocha de Avila Pelozin e o orientador pelo Prof. Dr. Tiago Fernandes.

O trabalho faz parte de dissertação de mestrado em desenvolvimento e foi apresentado no XXX Congresso da Sociedade Brasileira de Hipertensão e contemplado com o prêmio de Melhor Pesquisa Básica do evento. O estudo teve coautoria de Luis Felipe Rodrigues, Vanessa Azevedo Voltarelli, Patricia Chakur Brum e Edilamar Menezes Oliveira. Saiba mais na página do evento: https://www.congressosbh2022.com.br/evento/sbh/trabalhosaprovados/naintegra/918

Além desse estudo, outra pesquisa desenvolvida na EEFE também obteve destaque no evento. O trabalho “Treinamento resistido dinâmico, isométrico de handgrip e combinado (dinâmico + isométrico) em hipertensos tratados” de autoria de Rafael Y. Fecchio, Julio C.S.Sousa, Laura Oliveira-Silva, Natan D. Silva Junior, Andrea P. abreu, Giovânio V. Silva, Luciano F Drager, David Low; Claudia LM Forjaz  recebeu menção honrosa – Area Multidisciplinar. Clique aqui para acessar

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