Variação acentuada de peso em lutadores em razão da pesagem pré-combate traz resultados, mas pode ser prejudicial à saúde

A pesagem de lutadores antes dos combates para a divisão dos participantes em categorias de peso é um procedimento comum em diversas modalidades. Diante disso, muitos atletas adotam estratégias para reduzir grande quantidade de massa corporal antes da checagem e recuperar o máximo até a luta. Isso é feito em busca de uma alocação em categorias mais leves, com o objetivo de competir com atletas pretensamente menores e mais fracos. São procedimentos que podem determinar o resultado de um combate, porém, realizados de maneira irresponsável, também podem trazer riscos à saúde do atleta. 

No UFC, pesagem pré-combate faz parte do espetáculo. Fonte da Imagem: Combate.com

Uma pesquisa recente de autoria principal de Danilo França Conceição dos Santos, sob orientação do Prof. Dr. Emerson Franchini, da EEFE-USP, observou o desempenho dos judocas nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Por meio de métodos estatísticos aplicados com dados de mais de 100 atletas, foi feita uma análise da recuperação da massa corporal entre a pesagem para as competições individuais e a pesagem para as competições por equipes mistas. Foi averiguado, também, o impacto do ganho de massa muscular sobre o desempenho nas lutas das disputas por equipes. 

Diferentes categorias, diferentes limites

A divisão de atletas no judô é realizada em diferentes categorias de peso e a quantidade de massa corporal que se pode ganhar até a luta é relativa à categoria em que o (a) judoca se encontra. Na disputa individual, após a pesagem, é permitido recuperar até 5% de massa corporal a mais do que o estipulado pelo limite superior da categoria. Já nos times mistos, compostos por atletas de ambos os sexos e de diversas categorias de peso, é permitida uma elevação pós-pesagem de até 2 kg acima dos limites das categorias leves e médias, além dos 5% regulamentares, enquanto nas acima de 70 kg (feminino) e 90 kg (masculino), não há limite.   

Diferentes categorias possuem diferentes limites para o ganho de peso pós-pesagem. Fonte da Imagem: WikiMedia Commons

De acordo com os dados levantados pelos pesquisadores, lutadores pertencentes às categorias individuais mais leves apresentaram um ganho elevado de massa corporal, maior do que aqueles limitados pelo teto das equipes mistas. Além disso, também foi observado que os atletas que dispuseram de mais tempo entre a pesagem e a recuperação também obtiveram um maior ganho de massa corporal. 

Estratégia traz resultados, mas é necessário cautela

Os resultados da pesquisa indicam uma tendência entre os judocas que venceram suas lutas. Esses atletas apresentaram maior ganho de massa corporal pós-pesagem do que aqueles que perderam os seus combates. Ou seja, a acentuada perda de peso seguida de rápido ganho para o alcance do limite permitido pela categoria parece ter ajudado os atletas para um melhor desempenho. 

Arena do Judô nos Jogos Olímpicos 2020. Fonte da Imagem: WikiMedia Commons

Porém, o ganho de massa corporal por parte dos atletas mais leves pode trazer consequências negativas. Isso porque, considerando as variações de massa corporal previstas para as lutas seguintes, cria-se um cenário que pode colocar em risco a saúde do atleta, que pode ser submetido a procedimentos pouco responsáveis, como o uso descuidado de procedimentos para gerar rápida desidratação. Na categoria feminina, a situação é mais preocupante devido à pequena quantidade de estudos científicos que incluam as lutadoras. 

É possível que se aumente o número de pesquisas com mulheres na medida em que a Federação Internacional do Judô passou a conceder igual importância ao judô feminino e masculino. O próprio modelo de equipes mistas proposto na última edição dos Jogos Olímpicos, em Tóquio, ao incluir igual proporção entre os sexos, contribui para um olhar mais igualitário entre os sexos nos esportes de combate. Isso, segundo o Prof. Dr. Emerson Franchini, é um incentivo para que mais pesquisadores se interessem pelas competições femininas. 

Estudo publicado em periódico internacional

O artigo foi publicado na revista Sport Science for Health, e contou com a participação de Danilo França Conceição dos Santos, João Paulo Lopes-Silva, Rafael L. Kons, Marcus F. Agostinho e Emerson Franchini. O acesso pode ser feito por meio deste link. O estudo também foi citado em matéria na Folha de São Paulo publicada em 15 de Julho e cujo acesso pode ser feito por meio deste link.

 

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