O treinamento de um atleta de qualquer modalidade de combate deve considerar inúmeros fatores visando ao bom desempenho nas lutas. Os mais diferentes tipos de exercícios são incluídos nas rotinas dos lutadores, sempre em busca da melhor combinação para alcançar uma boa performance. Para compreender melhor a influência de exercícios de força e de potência no desempenho de atletas de taekwondo, a tese de doutorado de Lucas Duarte Tavares buscou avaliar três estratégias de treinamento. O trabalho foi orientado pelo Prof. Dr. Valmor Tricoli.
Participaram do estudo 30 atletas do sexo masculino, todos entre 18 e 23 anos e que competem em nível internacional. Os sujeitos foram divididos em grupos para os quais foi aplicada uma série diferente de exercícios, acrescida à suas rotinas. No primeiro grupo, a estratégia se baseava somente em exercícios de meio agachamento (exercício de força). No segundo, o meio-agachamento foi combinado a saltos verticais (exercícios de potência). E, no último, foi aplicado o meio-agachamento e um chute específico da modalidade, o bandal tchagui. Esse treinamento era aplicado duas vezes por semana, em sessões que duravam entre 40 e 50 minutos.

Chute bandal tchagui combinado a meio-agachamento foi uma das estratégias propostas pelo estudo
Os atletas foram avaliados durante todo o processo, inclusive antes e após a intervenção. Nessas avaliações, o desempenho motor foi mensurado através de testes de força e potência muscular, tempo de reação, agilidade e a habilidade de efetuar movimentos em alta intensidade de maneira repetida, habilidade essencial no taekwondo. Eles também foram submetidos a duas competições simuladas antes e uma posterior às oito semanas de treinamento. Essas competições, cada uma com três combates, foram gravadas para análise.
As lutas foram estudadas de acordo com os movimentos de ataque (ações ofensivas) e contra-ataque (ações defensivas). Esses dois grupos de movimentos também foram subclassificados de acordo com o tipo de movimentação e de interação com o oponente. As variáveis foram analisadas e mensuradas em suas quantidades totais e também com relação ao percentual de eficiência que apresentavam durante as lutas.
As competições simuladas foram gravadas para análise
O maior benefício apontado pelos resultados foi obtido no terceiro grupo, submetido ao treinamento com exercício de força combinado ao chute bandal tchagui. Os sujeitos desse grupo apresentaram aumentos mais pronunciados no desempenho físico de forma global, e na quantidade de ataques e contra-ataques. Além disso, passaram um maior tempo dentro da luta efetuando alguma técnica de movimentação combinada com ataques diversos. Isso quer dizer que o atleta aprimorou condições de ataque e interação mais frequente com seu oponente sem perder o seu desempenho.
“Esse resultado aponta que o treinamento com maiores elementos específicos da modalidade combinado com exercícios de força tende a apresentar um maior impacto sobre o desempenho motor, o que afeta de maneira positiva a atuação nas competições”, explica o pesquisador. Ele adiciona que, possivelmente, resultados parecidos poderiam ser obtidos a partir de combinações distintas de movimentos específicos (diferentes socos e chutes) com outros tipos de exercícios de força, como o técnicas advindas do levantamento de peso. A estratégia poderia ser, inclusive, aplicada a outras modalidades e já apresentou bons resultados em pesquisas com judô e karatê.
Estratégia já apresentou bons resultados em outras modalidades, como caratê e judô
Tavares ressalta a importância do preparador físico conhecer a fundo as especificidades da modalidade em que atua, assim como as exigências de cada exercício, a fim de obter sucesso ao combinar os exercícios de força e potência mais adequados à luta. Ele complementa que a organização das cargas das sessões também deve ser ajustada de acordo com a fase do atleta, de forma a evitar a fadiga em períodos muito próximos a competições.
O trabalho, intitulado “Efeitos crônicos do treinamento complexo no desempenho motor e no desempenho técnico-tático de atletas de taekwondo em competições simuladas”, foi defendido em julho deste ano na EEFE-USP.