Prêmio de Melhor Comunicação Oral no Congresso Abragesp

Investimentos na natação brasileira levam a bons resultados,
mas gestão eficiente dos recursos é essencial

 

O investimento financeiro no esporte de alto rendimento pode influenciar diretamente o desempenho dos atletas de uma modalidade. Mas os resultados dos investimentos no esporte não dependem somente da quantia aplicada, mas também da gestão desses investimentos. Visando entender melhor esta relação, foi realizado um estudo na EEFE que observou o caso da natação brasileira de alto rendimento. 

O trabalho analisou três das principais fontes de investimento da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) nas últimas décadas: o patrocínio dos Correios, o repasse de verbas das loterias federais (Lei n° 10.264/2001) e o Bolsa Atleta. O estudo foi conduzido pela mestranda Bruna Lindman Bueno, sob a orientação da Profa. Dra. Flávia Da Cunha Bastos (EEFE-USP) e do Prof. Dr. Leandro Carlos Mazzei (FCA-Unicamp). Além dos dados financeiros, foram coletados dados referentes aos resultados obtidos nos Jogos Olímpicos desde a edição de Barcelona 1992 a Tóquio 2020. Como fatores de análise dos resultados, foram considerados o número de atletas que participaram em cada edição olímpica, o número de vagas em finais e as medalhas conquistadas.

Os resultados indicam que o desempenho dos nadadores brasileiros nos Jogos Olímpicos melhorou à medida em que se aumentaram os investimentos. Nos Jogos Olímpicos de 2004, realizados em Atenas, já com o patrocínio dos Correios e com o repasse das loterias, o Brasil levou aos Jogos sua maior delegação até então, com um total de 23 nadadores. Em Pequim 2008, com 24 atletas, além do recorde de 6 finais olímpicas, houve a conquista da primeira e única medalha de ouro da natação brasileira e de mais um bronze. Em Londres 2012, com uma delegação menor devido aos critérios de classificação mais rígidos, o Brasil conquistou duas medalhas e 5 finais. Na edição Rio 2016 houve a maior delegação, 32 atletas, e o maior número de finais conquistadas (8), porém, sem medalhas obtidas.

A melhora nos resultados se explica porque “o aumento dos investimentos na natação brasileira permite que as organizações tenham mais recursos para investir no esporte de base, em instalações esportivas de qualidade, na participação em competições internacionais e em equipes multidisciplinares capacitadas”, elucida a autora. Também vale destacar que o sucesso esportivo depende de muitos outros elementos, como condições climáticas, fatores psicológicos, preparação física e até mesmo fatores genéticos.

Mas nem sempre mais investimentos significam benefício proporcional no desempenho esportivo. A pesquisadora destaca a má aplicação da verba recebida quando há desvios e casos de corrupção. A própria CBDA, a partir de 2015, passou a ser investigada pela Polícia Federal após suspeitas de que a diretoria da entidade possuía um esquema de desvio de recursos públicos. A investigação, intitulada Operação Águas Claras, acabou com a condenação à prisão do presidente da confederação e de mais dois membros da diretoria em 2019. O episódio culminou no fim da parceria com os Correios e com o bloqueio no repasse de verbas das loterias devido à falta de prestação de contas da entidade ao Comitê Olímpico Brasileiro.

Depois do escândalo, a CBDA passa por um momento de reestruturação, com novos dirigentes que prezam por uma gestão transparente. Segundo a pesquisadora, há espaço para o restabelecimento dos investimentos na natação brasileira. “Se o trabalho continuar sendo executado da maneira correta, a tendência é que os investimentos voltem a crescer, visto que a natação é muito popular no país e possui conquistas olímpicas relevantes”, comenta. 

O trabalho, intitulado de Análise dos principais investimentos financeiros na natação brasileira de alto rendimento nas últimas décadas, foi contemplado com o prêmio Lamartine da Costa de melhor comunicação oral no Congresso Brasileiro de Gestão do Esporte.  Clique aqui para assistir à apresentação oral da pesquisadora no evento.

 

Desenvolvido por EEFE-USP