Exercício físico e proteção cardíaca ao paciente com câncer

Estudo em modelo animal realizado na EEFE-USP demonstrou que o exercício físico aeróbio oferece proteção cardíaca no câncer, o que pode impactar no tratamento e na sobrevida de pacientes. O trabalho, de autoria principal da ex-aluna Larissa Gonçalves Fernandes, sob orientação da docente Patrícia Chakur Brum, foi publicado no periódico Life Sciences, em Setembro deste ano. Os experimentos foram realizados no Laboratório de Fisiologia Celular e Molecular do Exercício.
 
Para realizar a pesquisa, camundongos realizaram o treinamento físico aeróbio em esteira rolante. O protocolo do treinamento físico aeróbio começou a ser aplicado 30 dias antes do inóculo das células tumorais e foi mantido durante todo o período experimental, inclusive quando o tumor estava se desenvolvendo. Após 19 dias de crescimento tumoral, os animais apresentavam caquexia e diversas alterações em diferentes órgãos e tecidos, como atrofia e disfunção cardíaca. Além disso, o tecido cardíaco apresentou alterações morfológicas caracterizadas por necrose, inflamação e fibrose tecidual.
 
 
 
De acordo com os parâmetros observados pela pesquisadora e considerando os dados do grupo controle saudável e de outro grupo de animais sedentários com o tumor inoculado, o treinamento foi eficaz em atenuar a disfunção cardíaca, reduzir a inflamação, a necrose e a fibrose no tecido cardíaco. Segundo a autora principal do artigo, o exercício físico promoveu um efeito de anti-remodelamento cardíaco patológico. 
 
“Nós avaliamos possíveis vias de sinalização envolvidas nessas alterações, e observamos que o exercício físico modula genes relacionados às vias de inflamação e autofagia, associados à alterações de proteínas do complexo mitocondrial. Outro resultado interessante e que corresponde aos achados da literatura é de que o exercício físico aeróbio foi eficaz em atenuar o crescimento tumoral dos animais treinados, o que significa a redução do volume tumoral nesses animais”, explica.
 
 
As conclusões do artigo podem colaborar com o tratamento do câncer, pois alterações cardíacas ocasionadas pela quimioterapia e radioterapia diminuem a sobrevida, além de prejudicar a resposta e a tolerância ao tratamento. A situação se agrava em pacientes em estágio avançado da doença e com caquexia, presente em até 80% dos pacientes com câncer em estágio avançado e caracterizada principalmente pela perda involuntária de massa muscular. 
 
Vale ressaltar que, anos após o tratamento, as doenças cardíacas figuram entre a principal causa de morte em pacientes sobreviventes do câncer. A maioria dos estudos na área mostra os efeitos deletérios do músculo cardíaco em decorrência do tratamento do câncer, conhecido como efeito cardiotóxico do tratamento. No entanto, o estudo demonstrou que os prejuízos no tecido cardíaco estão presentes independentemente do efeito cardiotóxico, e isso reforça a importância de se iniciar o exercício físico prontamente. 
 
Larrisa G. Fernandes (à frente) com outros pesquisadores do Laboratório de Fisiologia Celular e Molecular do Exercício.
 
Apesar de o estudo da EEFE-USP ter sido realizado em modelo animal, já existem artigos científicos que indicam os benefícios do exercício físico como terapia auxiliar no tratamento do câncer e como forma de atenuar efeitos adversos no coração. Entretanto, é um campo recente e muitos trabalhos científicos devem ainda ser publicados, abordando, inclusive, a prescrição mais detalhada do exercício e considerando as muitas variáveis envolvidas nos pacientes. 
 
“Em uma visão geral, esses estudos sugerem que a combinação do treinamento de força e aeróbio parece atingir maiores benefícios para os pacientes com câncer. Já foi demonstrado que o treinamento de força é seguro e viável mesmo em pacientes com metástase óssea, então é uma ferramenta que pode e deve ser mais explorada nos futuros trabalhos. Os benefícios do exercício físico na área oncológica está crescendo e vem se fortalecendo cada vez mais. Vale considerar que também é um campo novo para o profissional de educação física, mas promete contribuir para nosso importante papel na área da saúde”, afirma a pesquisadora. 
 
O artigo completo, intitulado “Exercise training delays cardiac remodeling in a mouse model of cancer cachexia”, pode ser acessado por meio do link:
 
 
 
 

Desenvolvido por EEFE-USP