Maior prática esportiva não aumenta a percepção de competência

A prática esportiva e o treino orientado e bem executado tendem a  levar o atleta a chegar mais perto da excelência. Entretanto, a sensação de apresentar um desempenho melhor não necessariamente acompanha esse crescimento. Ou seja, muitas vezes não se terá a percepção imediata da melhora. Uma pesquisa da EEFE realizou uma análise dessa característica da prática esportiva. 

O estudo, realizado por Ricardo Giglio Amadio, sob orientação do Prof. Dr. Umberto Cesar Corrêa, contou com a participação de 24 voluntários, entre 18 e 35 anos, de ambos os sexos. Todos tinham que realizar o movimento forehand do tênis de campo, modalidade com a qual nenhum deles tinha familiaridade. A tarefa consistia em rebater a bola e acertar um alvo do outro lado da quadra, conquistando mais pontos conforme a precisão da rebatida durante a execução da tarefa. 

Imagem de participante tirada durante os testes. [Arquivo pessoal/Ricardo Amadio]

Os resultados demonstraram que a maior quantidade de prática proporcionou ganhos superiores no desempenho, entretanto, não influenciou na percepção de competência. Isso quer dizer que os indivíduos se saíam melhor na tarefa proposta, mas não se enxergavam como melhores naquela prática. Por outro lado, o aumento da prática levou à percepção maior de competência no quesito de força física e condicionamento físico. O pesquisador acredita que essa percepção não vem de uma melhora real, mas da sensação de fadiga após uma prática esportiva intensa.

Os participantes foram divididos em dois grupos de acordo com a quantidade de prática. O Grupo 1 realizou 180 tentativas em um dia, enquanto o Grupo 2 fez 360 tentativas divididas em dois dias, tendo um dia de descanso entre as duas sessões. Antes e após o teste, cada voluntário respondeu a um questionário para medir sua percepção individual de desempenho. Posteriormente, eles foram divididos em alta e baixa percepção de competência inicial: Grupos 1A (180 tentativas e alta percepção), 2A (360 tentativas e alta percepção), 1B (180 tentativas e baixa percepção) e 2B (360 tentativas e baixa percepção). 

 

Esquema para exemplificar o alvo e da tarefa a ser realizada pelos voluntários do estudo. Obs: os números não são a pontuação [Arquivo pessoal/Ricardo Amadio]

Ambos os grupos melhoraram seus desempenhos com a prática, tendo uma melhora maior nos grupos que fizeram mais repetições. Contudo, a percepção de competência na execução da tarefa não mudou com a prática. Verificaram-se ganhos na percepção de competência apenas na força física (em todos os grupos) e condicionamento físico (exceto para o grupo 1B).

De acordo com o estudo, existem duas possibilidades para explicação desse resultado: a primeira é que o forehand representa uma parte muito pequena de um esporte complexo. Portanto, uma melhora nessa tarefa representa pequena influência sobre a percepção de competência. A segunda está relacionada à importância de um professor experiente. Por ser um aspecto subjetivo, que só pode ser avaliado pela própria pessoa, sugere-se que validar e incentivar o aluno durante a prática pode ajudá-lo a transgredir a própria percepção de competência.

Imagem de participante tirada durante os testes. [Arquivo pessoal/Ricardo Amadio]

O estudo, intitulado “O efeito da quantidade de prática na percepção de competência em aprendizagem” foi defendido em março deste ano como Dissertação de Mestrado na área de conhecimento “Estudos Socioculturais e Comportamentais da Educação Física e Esporte”.. O trabalho completo está disponível no Banco de Teses da USP e pode ser acessado pelo seguinte link:  https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/39/39136/tde-29052024-143917/pt-br.php

 

Por Diogo Silva (diogo.spinelli@usp.br)

Estagiário sob supervisão de Paula Bassi

Seção de Relações Institucionais e Comunicação

 
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