A importância da Educação Física para o progresso do SUS

Juntando ciências e artes, pesquisa da EEFE analisou a contribuição da área para as Práticas Integrativas e Complementares (PICS) e a formação oferecida pela Residência Multiprofissional feita no Sistema Único de Saúde.

Um dos setores em que os profissionais de Educação Física podem se especializar é a saúde. Por meio de políticas públicas realizadas nas últimas décadas, a área passou a ter maior presença no Sistema Único de Saúde (SUS), auxiliando o cuidado dos brasileiros. 

A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), instituída em 2006,  possibilitou o acesso da população a terapias que vão além da medicina convencional, como a dança circular e o yoga. Essa medida possibilitou que a Educação Física estivesse presente em mais ações do SUS, tendo os graduados na área a oportunidade de realizar a Residência Multiprofissional em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (RMPICS).

A pesquisadora Laura Iumi Nobre Ota, sob orientação da Profa. Dra. Yara Maria de Carvalho, desenvolveu sua dissertação de mestrado na EEFE-USP tomando como base a experiência que teve com a RMPICS. Utilizando elementos da dança e da poesia, a pesquisa analisou o processo de aprendizado na residência, assim como a contribuição da Educação Física para o SUS.

 

Utilizando elementos da dança e da poesia, a pesquisa teve como objetivo analisar a contribuição da Educação Física para o SUS e a formação oferecida aos profissionais da área - Foto: Paula Bassi

Ao final do estudo, a pesquisa concluiu que a residência é capaz de abrir portas tanto para os profissionais de Educação Física quanto para a população explorarem novas vivências e práticas. Contudo, a falta de um Projeto Político Pedagógico (PPP) e uma sistematização no ensino torna o projeto ainda inacabado, limitando as possibilidades de qualificação para a atuação no SUS. 

Levantamento coletivo dos dados e o diálogo com a dança e a poesia

A Residência Multiprofissional em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (RMPICS) é um programa da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo que tem como objetivo a especialização em práticas integrativas e complementares em saúde (PICS), para atuação no contexto da assistência, educação e gestão no SUS.

De março a agosto de 2022, a pesquisadora coletou dados das sessões de discussão de um coletivo formado por cerca de 20 pessoas que, assim como ela, faziam parte do colegiado interno da RMPICS. O estudo ocorreu por meio de um diário de campo, construído em conjunto com os demais participantes do coletivo.

 

Sem um roteiro pré-definido, o estudo ocorreu por meio de um diário de campo, construído em conjunto com os demais participantes do coletivo - Foto: Marcos Santos/USP Imagens 

As reuniões ocorriam uma vez por mês, às sextas-feiras, e eram feitas de maneira remota. Para possibilitar o desenvolvimento de uma escrita coletiva durante os encontros, a pesquisadora disponibilizou um documento on-line, permitindo que os participantes compartilhassem suas ideias livremente..

Além disso, a pesquisadora utilizou poemas autorais e elementos da dança para elaborar o estudo. As chamadas pesquisas poéticas, modo como a dissertação foi conduzida, alternam entre textos sobre a investigação e poemas que se ligam ao tema de várias maneiras. 

Para realizar a análise, os assuntos tratados nas reuniões do coletivo foram divididos em quatro passos, como uma dança: Passo Carrossel (a parte prática do estágio), Passo Picado (as aulas teóricas), Passo Pequenos Saltos (os Trabalhos de Conclusão) e Passo Flexão (a avaliação).

Para realizar a análise, os assuntos tratados nas reuniões do coletivo foram divididos em quatro passos, como uma dança - Foto: Paula Bassi

 

A atuação da Educação Física no SUS e a necessidade de sistematizar o ensino

Organizar as experiências compartilhadas durante as reuniões ajudou a evidenciar os obstáculos encontrados no processo de formação da Residência e, também, meios de transformá-los. Um dos problemas principais apontados pelo estudo é a inexistência de um Projeto Político Pedagógico (PPP) que norteie o curso. Conforme a pesquisa, a ausência de um PPP impossibilita que o aprendizado aconteça de forma coletiva, o que enfraquece a qualificação do programa. 

Outra questão é a falta de integração entre as aulas teóricas e os cenários de práticas. Como mostra o estudo, a formação na Residência não aborda os conceitos específicos de cada área e as aulas são focadas na medicina biomédica. Dessa maneira, as várias práticas corporais das PICS, parte do universo da Educação Física, acabam acontecendo apenas como atividade física, trabalhando somente os aspectos biológicos sem considerar as questões sociais e culturais. 

Como exemplo, a pesquisa evidencia que a Dança Circular, uma das terapêuticas oferecidas no SUS, aborda, majoritariamente, danças de origem européia e coreografias rígidas que não permitem modificar os passos. Assim, a falta de discussões coletivas e que compreendam teorias além da biomedicina se mostra uma barreira para a inclusão de danças tradicionais brasileiras e de um espaço que abrigue o pensamento crítico.

 

Pesquisa analisou a Dança Circular, uma das terapêuticas oferecidas no SUS - Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Contudo, mais do que identificar fraquezas, a sistematização feita tornou possível enxergar caminhos para mudar esse cenário. Segundo Laura Ota, autora do estudo e preceptora na RMPICS no Centro de Saúde Escola Geraldo de Paula Souza da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (CSEGPS/FSP-USP), os resultados da pesquisa auxiliaram na elaboração de um Projeto Político Pedagógico, ainda em processo, para a Residência. Além disso, o estudo potencializou transformações nos processos cotidianos, contribuindo para o aumento das discussões coletivas e as formas de cuidados, entendendo as práticas corporais como práticas de saúde.

A dissertação “As danças das forma-ações em uma residência multiprofissional em saúde: passos para formar no e para o Sistema Único de Saúde” pode ser acessada completa por meio do link:

https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/39/39136/tde-20022024-111409/publico/Laura_Iumi_Nobre_Ota_corrigida.pdf

Por Giulia Rodrigues

Estagiária sob supervisão de Paula Bassi

Seção de Relações Institucionais e Comunicação

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