Eventos esportivos são importantes ferramentas para a formação de atletas em diversas modalidades. Por meio deles, os jovens praticantes começam a se familiarizar com o ambiente competitivo inerente ao esporte. No caso da ginástica rítmica, as competições são essenciais não apenas pelo componente técnico, mas também pelo fator motivacional desencadeado pela recepção por parte do público e do júri frente às apresentações coreográficas.
Participar de eventos demonstrativos - como festivais - ou competitivos - como campeonatos - possibilita a vivência não só da apresentação em si, mas também de aspectos relacionados ao processo de composição, sejam eles artísticos e/ou técnicos. A importância desses eventos se demonstra também pelo grande número de participantes, que podem chegar a 200 ginastas em cada competição. Embora a pandemia tenha limitado a realização desses eventos em 2020, algumas federações os promoveram de forma remota. Assim, as ginastas puderam se apresentar de casa ou de seu ginásio de treinamento, quando permitido.
A fita é um dos aparelhos avaliados nas competições de ginástica rítmica - Foto: Tsutomu Takasu
Em sua pesquisa de doutorado, Lorena Nabanete dos Reis Furtado, sob orientação da docente Michele Viviene Carbinatto, buscou identificar o papel desses eventos no processo de desenvolvimento de atletas da ginástica rítmica. Para isso, analisou os regulamentos de sete das principais competições voltadas a crianças entre 7 e 8 anos e promovidas por federações estaduais de ginástica em 2019. Além disso, entrevistou representantes das instituições promotoras e os próprios treinadores a fim de identificar a dinâmica e os objetivos da oferta e da participação nos eventos, voltados exclusivamente para atletas femininas.
De acordo com os resultados do trabalho, o principal objetivo para a promoção das competições é a formação de ginastas para o alto rendimento, destacando-se o desenvolvimento de aspectos técnicos relacionados à modalidade. Além disso, os eventos focam na orientação de treinadores, para os quais a participação motiva as atletas e as prepara para a evolução na carreira esportiva. É principalmente no momento da apresentação que as ginastas se sentem desafiadas, valorizadas pelo aplauso do público e reconhecidas pelo seu esforço.
De acordo com a pesquisadora, existem iniciativas que buscam adequar as exigências de movimentos ao momento de desenvolvimento da criança. - Foto: Epueo
Mesmo diante de todas as vantagens em se participar e promover eventos dessa natureza, há que se considerar também os reveses enfrentados por ginastas e treinadores. Dentre eles, a cobrança por resultados de maneira excessiva pode acarretar em futuras lesões e desgastes psicológicos. De forma a apaziguar possíveis efeitos negativos da prática competitiva, a pesquisadora sugere espaços de reflexão pedagógica nos diferentes contextos de formação de treinadores.
A formação de treinadores com fundamentação pedagógica fomenta o respeito às necessidades e anseios físicos e mentais das crianças, bem como incentiva a construção de valores educacionais do próprio esporte. De acordo com a pesquisadora, “é essencial colocar o aluno/atleta no centro do processo de aprendizagem e guiar as ações pedagógicas com base nisso”. Segundo outro estudo recente realizado na EEFE, conceder autonomia às crianças no treinamento da ginástica pode ajudar na construção de um ambiente de aprendizado mais humano e colaborativo.
Nas coreografias apresentadas nas competições, são avaliados os quesitos de dificuldade e execução. - Foto: Tsutomu Takasu
“É possível formar atletas em um ambiente saudável, respeitoso e motivador. A ginástica, assim como qualquer esporte voltado para o rendimento, traz desafios, dificuldades, sacrifícios e, quanto mais alto o nível, mais dedicação se exige. A introdução ao ambiente competitivo deve ser planejada ao longo da formação do atleta para que, em cada fase de sua carreira, as experiências sejam positivas e a motivação seja mantida”, complementa.