Em uma partida de futebol, os atletas correm vários quilômetros pelo gramado em busca do domínio da bola e do sucesso no jogo. A distância percorrida é indicativo da habilidade e do preparo físico dos jogadores. Porém, a quantidade de gols está muito mais relacionada aos padrões desse deslocamento no campo que à distância percorrida. Isso quer dizer que a variação das posições dos jogadores ao longo da partida afeta o resultado.
O estudo desses padrões e suas variações é relevante para a compreensão dos fatores que levam ao sucesso ou fracasso. Em sua tese de doutorado defendida na EEFE-USP, o pesquisador Fabian Alberto Romero Clavijo, orientado pelo Prof. Dr. Umberto César Corrêa, analisou cinco jogos do Campeonato Paulista e da Copa do Brasil da categoria Sub-20. Os jogos aconteceram ao longo de 2018.
Imagem de um dos jogos analisados pelo estudo.
Por meio de rastreamento semiautomático com um software especializado, foi possível sistematizar os deslocamentos das equipes. A partir disso, foram calculadas algumas variáveis, como o centróide, que representa a posição média dos jogadores de cada time e a distância entre cada atleta e esse centróide. Essas informações elucidaram importantes pontos sobre o desenvolvimento das partidas.
“Em situação de ataque, algumas equipes posicionaram-se no meio-campo adversário, atacaram com passes curtos e com muitos jogadores. Outras, posicionaram-se no meio-campo próprio, atacaram com passes longos e poucos jogadores. Além disso, algumas equipes apresentaram a tendência de atacar por uma das laterais do campo. Em situação de defesa, algumas equipes posicionaram-se no meio campo adversário para recuperar a bola o mais rápido possível, enquanto outras, recuaram para defender perto do próprio gol”, esclarece o pesquisador sobre alguns dos padrões observados.
Imagem de um dos jogos analisados pelo estudo.
Os comportamentos coletivos e individuais evidenciaram que as equipes ajustaram seus comportamentos em função dos deslocamentos do time adversário. Além disso, o mesmo padrão, utilizado em diferentes momentos do jogo, levou a diferentes desfechos. Encontrou-se também que houve maiores variações individuais em comparação com as coletivas. Essas variações ocorreram sem uma sequência definida, com o objetivo recuperar a bola e fazer o gol.
“No que diz respeito aos ataques que finalizaram em gol, os resultados evidenciaram que houve mudanças no comportamento individual e/ou coletivo em relação ao ataque anterior. Especificamente, mais da metade dos gols analisados foi marcada quando as equipes adotaram comportamentos novos. Isto é, mudar é importante para se ajustar aos diferentes cenários que ocorrem no jogo e para conseguir fazer gols”, explica o pesquisador.
Esse tipo de análise pode auxiliar nas observações realizadas com categorias de formação e equipes profissionais. Ademais, os resultados encontrados servem como base para as equipes de futebol treinarem mais de uma maneira de jogar e, com isso, evitar a previsibilidade que pode favorecer o adversário.