O elevado Presidente João Goulart, popularmente conhecido como Minhocão na cidade de São Paulo, tem horário restrito para o trânsito de veículos, que só podem utilizar a via de segunda a sexta-feira, das 7h às 20h. Nos outros dias e horários, o local fecha para carros e motos e se transforma em parque suspenso. Em 2018, o Parque Municipal do Minhocão foi sancionado pela Lei nº 16.833. Desde então, foram ampliados seus horários de funcionamento para a prática de atividades físicas, culturais e de lazer*. A medida beneficiou especialmente os moradores da região central, que aproveitam o espaço nos horários de restrição de tráfego dos carros.
O Parque do Minhocão se localiza no Elevado Presidente João Goulart, em São Paulo
Em longo prazo, existe a possibilidade de que o viaduto seja definitivamente fechado para os carros e se torne parque em tempo integral. Porém, existe um longo caminho até que isso aconteça. Recentemente, foi proposta a aplicação de um plebiscito à população paulistana sobre o assunto. A transformação envolve muitos fatores e uma pesquisa do Laboratório de Hemodinâmica da Atividade Motora da EEFE pode elucidar um dos pontos positivos do possível estabelecimento definitivo do parque suspenso: a promoção da saúde da população da região por meio do estímulo à prática de atividade física.
O estudo foi realizado por uma equipe liderada pelo Educador Me. Bruno Modesto, sob orientação da Profa. Dra. Cláudia Forjaz e de autoria do aluno Rodrigo Nogueira. Com o objetivo de mapear os frequentadores, o grupo realizou um levantamento de dados pessoais e demográficos; prática de atividade física no tempo de lazer; e formas de uso do parque. Foram entrevistadas 265 pessoas no local nos dias 14/09/2019 e 20/10/2019. Os participantes responderam um questionário, fizeram medidas clínicas e receberam orientação sobre a prática de atividade física para a melhora da saúde e qualidade de vida.
Pesquisadores EEFE em levantamento no Parque do Minhocão
A maioria da amostra foi formada por adultos entre 18 e 59 anos, com nível de escolaridade superior e de diferentes classes econômicas. Mais de 75% das pessoas moravam próximo ao parque, entre 500 m e 1000 m. Além disso, 60,4% delas eram ativas no lazer e usavam a via para realizar atividades físicas (84,9%), principalmente para caminhar ou correr. Muitos usuários (61,9%) também afirmaram que a recente ampliação do horário de funcionamento do local aumentou sua motivação para a prática física.
De acordo com os pesquisadores, os dados sugerem que a ressignificação da via em parque linear fornece oportunidades para mulheres e homens de diferentes idades e perfis socioeconômicos realizarem atividades físicas. O Educador Me. Bruno Modesto explica que esse é um efeito importante para se atingir as metas governamentais de enfrentamento de doenças crônico-degenerativas por meio da diminuição da inatividade física.
Projeto Exercício e Coração no Parque da Água Branca
Vale destacar que, desde 2000, um monitoramento semelhante é realizado pela EEFE no Parque Dr. Fernando Costa (Parque Estadual da Água Branca). No local, o grupo supervisionado pelo Educador Me. Bruno Modesto com o auxílio da Educadora Teresa Bartholomeu e coordenado pela Profa. Dra. Cláudia Forjaz realiza o “Projeto Exercício e Coração”, criado para orientar e prescrever a prática segura de atividade física para frequentadores de locais públicos que se exercitam sem a supervisão de um profissional da área da Educação Física. Levantamento realizado pela equipe aponta que, assim como no Parque do Minhocão, os frequentadores do Parque da Água Branca utilizam o espaço, principalmente, para a realização de atividade física, especialmente a caminhada.
Nos dois parques, a maior parte dos frequentadores é fisicamente ativa - 60,4% (Minhocão) e 56% (Água Branca), estatística acima da média brasileira (39%) e do estado de São Paulo (34,6%). “Não é possível atribuir essa maior proporção de pessoas ativas à existência dos parques, mas a disponibilidade destes espaços pode ter incentivado a prática, já que em ambos os locais a utilização é, basicamente, para a prática de atividades físicas de lazer”, ressalta o educador.
A Profa. Claudia ainda complementa: “É interessante observar que as pessoas que frequentam cada um desses locais são diferentes. No Parque Minhocão predominam adultos jovens e de meia idade, enquanto que no Parque da Água Branca predominam usuários de idades mais avançadas. Essa diferença sugere que esses parques se complementam no atendimento à população local”
*Atualmente (2/10/2020), o Parque do Minhocão se encontra fechado devido à pandemia do Covid-19.