Exercícios aeróbios podem reduzir a sensibilidade aos efeitos da poluição

A poluição atmosférica, na medida em que aumenta processos inflamatórios no corpo, é um fator de risco para a saúde, principalmente para os moradores de grandes cidades, onde a concentração de poluentes é mais intensa. Não à toa, estima a Organização Mundial da Saúde (OMS) que a poluição está relacionada a aproximadamente 7 milhões de mortes por ano. Por sua vez, o exercício físico aeróbio pode ser um importante agente para a prevenção dos efeitos nocivos causados pela poluição.
 

Uma pesquisa recente foi realizada na EEFE observou a ação do exercício aeróbio para ciclistas em ambiente poluído e não poluído, olhando mais especificamente para a poluição atmosférica na cidade de São Paulo. A partir dos resultados coletados, os pesquisadores concluíram que pessoas já adaptadas a treinar com uma baixa qualidade do ar não apresentam prejuízo de desempenho esportivo em ambientes de ar poluído.

Pesquisa recente realizada na EEFE observou a ação do exercício aeróbio para ciclistas em ambiente poluído e não poluído. Foto: Paula Bassi

O trabalho, conduzido por André Casanova Silveira e orientado pelo Prof. Dr. Rômulo Bertuzzi, constituiu na participação de 10 ciclistas residentes da cidade de São Paulo. Estes ciclistas,  recreacionalmente treinados, foram submetidos a pedalar 50 km contrarrelógio (no menor tempo possível) sobre duas condições diferentes. Na primeira,  foi simulado um ambiente poluído “real”,  por meio do próprio ar que vinha pelo ambiente externo. Na outra situação, o ar do ambiente externo foi filtrado, o que gerou uma menor concentração de poluentes. 

O que se observou foi que do ambiente poluído para o filtrado não ocorreram mudanças fisiológicas significativas, e nem nos níveis dos marcadores inflamatórios e anti-inflamatórios que estavam sendo analisados. Isso indica para a hipótese de que “ciclistas treinados, acostumados a treinar em ambiente poluído, não apresentam prejuízo no desempenho, possivelmente por apresentarem uma menor sensibilidade aos efeitos da exposição aguda à poluição", como diz André sobre os resultados.

A hipótese levantada se baseia em estudos que indicam uma adaptação ao ozônio quando alguém é exposto a ele de maneira consecutiva. No caso, a adaptação diminui alguns sintomas subjetivos da poluição como irritação nos olhos e na garganta, espirros, etc. Tais sintomas, por sua vez, poderiam aumentar a percepção de esforço durante a realização do teste de pedal. Como o aumento, porém, não foi detectado durante o teste, inferiu-se que indivíduos acostumados a treinar em ambiente poluído teriam uma menor sensibilidade aos sintomas agudos desencadeados pela poluição.

Com isso, o papel do exercício aeróbio para a saúde, contra os efeitos da poluição no corpo, fica cada vez mais claro. A longo prazo, ainda, comenta André Silveira que “baseado em nosso estudo e nos estudos com animais que conseguiram observar a exposição a poluentes de forma controlada e crônica, parece que as adaptações benéficas promovidas pelo exercício conseguem sobrepor os efeitos deletérios acarretados pela poluição”.

O estudo foi publicado na revista American Journal of Physiology-Regulatory, Integrative and Comparative Physiology, sob o título “Effects of air pollution exposure on inflammatory and endurance performance in recreationally trained cyclists adapted to traffic-related air pollution”. Mais informações em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35411800/   

Texto: Guilherme Viana
Edição: Paula Bassi
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