O Parkinson é uma doença neurológica que afeta as funções motoras dos pacientes, sendo o congelamento da marcha um dos sintomas observados em muitos indivíduos. Esse sintoma é caracterizado pela incapacidade momentânea de andar, como se a pessoa estivesse com os pés presos ao chão, não conseguindo propulsionar o seu corpo na direção para a qual deseja se movimentar.
Congelamento da marcha é um dos sintomas observados em muitos indivíduos com Parkinson
Comumente, tais episódios, e a doença de Parkinson em si, são tratados com a levodopa, medicamento que diminui a severidade dos sintomas motores, induz melhora do padrão de marcha e pode diminuir a intensidade dos episódios de congelamento. Porém, um estudo recente conduzido pela pesquisadora Julia Ávila de Oliveira, orientada pelo Prof. Dr. Luis Augusto Teixeira, revelou que apenas o tratamento farmacológico não é o suficiente para atenuar as diferenças motoras entre os pacientes com e sem congelamento.
A levodopa e sua atuação no congelamento de marcha
O objetivo da pesquisa foi observar a ação do remédio nas características da marcha, comparando indivíduos com e sem congelamento, a fim de conferir o quanto eles interferem na eficácia da medicação. Para isso, participaram do estudo 22 pacientes, divididos em dois grupos: os que apresentavam o congelamento e os que não apresentavam. Todos eles faziam uso do remédio de forma contínua. A pesquisadora explica que a levodopa induz um efeito agudo de melhora motora. Esse efeito é dependente da concentração da substância no organismo e dura por algumas horas. Por isso, os pacientes precisam tomar mais de uma dose da medicação por dia.
A marcha dos pacientes foi avaliada por meio de um equipamento denominado zebris, uma plataforma capaz de medir a pressão exercida sobre ela. O Sistema Zebris calcula automaticamente os parâmetros da marcha a partir da pressão exercida pelos pés durante uma breve caminhada. Dessa forma, são obtidas informações como velocidade da marcha, cadência (quantidade de passos por minuto), comprimento médio do passo, tempo de duração do passo, largura do passo, comprimento da passada e tempo de duração da passada.
Fonte: Simoneau, G.G. Kinesiology of Walking. In: Neumann, D. A. Kinesiology of musculoskeletal system: fundations for physical rehabilitation. Mosby, p. 627-677 (adaptado)
Os voluntários realizaram esse teste em duas situações: sob efeito da medicação, cerca de uma hora após a ingestão, e sem o efeito da medicação, cerca de 12 horas após a última dose. Em cada teste, eles realizaram 10 tentativas em uma velocidade confortável determinada por eles mesmos. Foram também aplicados questionários para a avaliação do estágio da doença, da severidade dos sintomas motores, avaliação do equilíbrio e das funções cognitivas, além do levantamento de informações sobre dosagem utilizada da medicação e há quanto tempo receberam o diagnóstico da doença.
Em ambos os estados, medicado e não medicado, o grupo com congelamento de marcha apresentou menor comprimento do passo, da passada e menor velocidade da marcha comparado ao grupo sem o sintoma. Isso indica um maior comprometimento da marcha no primeiro grupo, independente do estado da medicação. Essa diferença entre os dois grupos não foi atenuada com o uso do medicamento, pois no estado medicado ambos apresentaram uma melhora equivalente sobre os sintomas.
Novas possibilidades de intervenção
Segundo a pesquisadora, “é possível concluir, a partir desses resultados, que apenas a medicação não é capaz de atenuar as diferenças motoras do padrão de marcha de indivíduos com e sem congelamento, sendo necessárias outras intervenções não-farmacológicas para esse fim”. Além disso, “as diferenças clínicas entre os indivíduos com e sem congelamento de marcha não interferem na análise do efeito da medicação na marcha". Com isso, a pesquisa amplia as possibilidades de intervenções para que a melhora da marcha ocorra.
Outras intervenções não-farmacológicas são necessárias para atenuar as diferenças motoras entre indivíduos com e sem congelamento
A fim de saber mais sobre essas possibilidades, ideias de continuação da pesquisa já foram colocadas para discussão, o que implica desde novos modelos de análise estatística, comparação entre tarefas motoras diferentes e treinamentos físicos que podem servir como intervenção para a melhora da marcha. O trabalho, realizado em parceria com a UFABC integrou a dissertação de mestrado intitulada "Efeito da medicação antiparkinsoniana nos parâmetros espaço-temporais da marcha de indivíduos com doença de Parkinson: comparação entre indivíduos com e sem congelamento de marcha", defendida em fevereiro de 2022.