Exercícios de força podem ser aliados no tratamento da hipertensão arterial

Cerca de 38,1 milhões de brasileiros, ou 23,9% da população nacional, são diagnosticados com hipertensão arterial. Isso quer dizer que esses indivíduos apresentam pressão arterial maior ou igual a 140 por 90 mmHg. O dado, retirado da Pesquisa Nacional de Saúde divulgada pelo IBGE em 2020, aponta para um importante fator de risco vinculado ao desenvolvimento de outras doenças cardiovasculares. Por sua alta prevalência no país, trata-se de uma condição amplamente estudada pela comunidade científica.

O exercício físico é uma das estratégias que podem trazer muitos benefícios no tratamento da doença. Sabe-se que o treinamento aeróbio, como uma caminhada, pode reduzir a pressão arterial por até 12 horas após uma sessão. Agora, estudos passam a demonstrar que a musculação, ou exercício resistido, também apresenta um efeito nesse sentido. A Hipotensão Pós-Exercício Resistido ocorre devido a respostas cardíacas e/ou vasculares do organismo, dependendo das características da população estudada. Porém, a magnitude desse efeito apresenta alta variabilidade entre diferentes pessoas.

A Hipotensão Pós-Exercício Resistido ocorre devido a respostas cardíacas e/ou vasculares do organismo - Foto: Paula Bassi

Para investigar a causa dessa variabilidade nas respostas individuais  de pressão arterial após o exercício resistido, pesquisadores do Laboratório de Hemodinâmica da Atividade Motora (LAHAM), orientados pela Profa. Dra. Cláudia Forjaz, analisaram dados obtidos em sete ensaios clínicos. Os artigos analisados foram publicados pelo próprio LAHAM e pelo Grupo de Pesquisa sobre Efeitos Agudos e Crônicos do Exercício da UFRN, totalizando uma amostra de 131 indivíduos entre 19 e 74 anos, de ambos os gêneros. Os protocolos aplicados envolveram de um a nove diferentes exercícios resistidos realizados por até três séries de oito a vinte repetições, e intensidade entre 50 e 80% da força máxima. Participaram dos estudos indivíduos normotensos, pré-hipertensos e hipertensos.

Segundo o autor principal deste trabalho, o doutorando Rafael Yokoyama Fecchio, foi possível identificar que os indivíduos com maiores níveis de pressão arterial apresentaram uma maior hipotensão pós-exercício resistido. Além disso, sessões com maior volume (quantidade) de exercício geraram melhores resultados, enquanto que a intensidade dos exercícios não  exerceu influência. Isso quer dizer que uma sessão com um número maior de exercícios, séries e/ou repetições pode potencializar  os benefícios ao hipertenso independente do aumento de carga ao praticante.

Indivíduos com maiores níveis de pressão arterial apresentaram uma maior hipotensão pós-exercício resistido - Foto: Paula Bassi

O estudo pode auxiliar na elaboração de uma prescrição individualizada de treinamento com o objetivo de potencializar o efeito hipotensor. “Os resultados são encorajadores sobre o uso do exercício resistido no tratamento não-medicamentoso da hipertensão, ao sugerir que a hipotensão pós-exercício resistido é maior justamente naqueles indivíduos que mais se beneficiam com esse efeito. Além disso, é possível potencializar o efeito da hipotensão por meio das manipulações adequadas”, comenta o pesquisador.

O trabalho, intitulado “Existe variação verdadeira nas respostas individuais de hipotensão pós-exercício resistido dinâmico?”, foi contemplado com o 3o. lugar na categoria “Destaque Científico” do Prêmio Dr. Victor Keihan Rodrigues Matsudo no VIII Congresso Brasileiro de Metabolismo, Nutrição e Exercício de 2021. O estudo contou com autoria de Rafael Y. Fecchio, Andréia C.C. Queiroz, Eduardo C. Costa, Raphael M. Ritti-Dias, Cláudia L.M. Forjaz. A pesquisa contou com o apoio financeiro da FAPESP. 

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