Dentre os desafios enfrentados por entidades esportivas diante de grandes eventos, a captação e manutenção de patrocínios ocupa um papel central, já que desse financiamento depende a preparação adequada para a ocasião. Nos Jogos Rio 2016, a questão se tornou ainda mais evidente tanto para as entidades brasileiras de administração do desporto quanto para as empresas patrocinadoras, interessadas na alta visibilidade do evento realizado no próprio país.
Cerimônia de Encerramento dos Jogos Olímpicos 2016 - Fernando Frazão/Agência Brasil
Considerando esse cenário, o mestrando Rene Vinicius Donnangelo Fender, orientado pela Profa. Dra. Flávia da Cunha Bastos, analisou a oscilação de patrocínios no Comitê Olímpico do Brasil (COB) e suas Confederações e do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) durante o período de 2014 a 2018. O objetivo foi averiguar o número de patrocinadores e seus valores, analisando a evolução pré e pós Jogos Rio 2016. Os dados foram obtidos por meio de demonstrativos financeiros disponibilizados nos sites oficiais das entidades.
Queda de patrocínios
O levantamento demonstrou que, no conjunto de entidades analisadas, houve queda acentuada do número de patrocínios e, consequentemente, dos valores aportados, principalmente após os Jogos. O COB perdeu três patrocínios após 2016, mas ganhou outros três, todos privados, e o CPB reduziu pela metade seus patrocínios e valores investidos durante o período. Nas trinta Confederações analisadas, a situação mostrou-se mais preocupante. A maior parte (70%) terminou 2018 sem patrocínio, sendo que nove entidades não tiveram qualquer contribuição por parte de empresas durante todo o período estudado.
Torcida Brasileira em uma das partidas dos Jogos Rio 2016. Foto: Agência Brasília
Segundo o pesquisador, a diminuição gradual de aportes é um movimento natural devido à perda de visibilidade após os Jogos. Mesmo com essa queda, os grandes eventos trazem benefícios para as entidades, pois tornam os patrocínios mais atraentes para as empresas, ainda que por período limitado. Para manter esses investimentos, porém, seria necessário atentar à estrutura organizacional das entidades.
Investimentos em estrutura organizacional
“Os aportes foram utilizados majoritariamente na atividade-fim, ou seja, em investimentos diretos nos atletas na preparação de competições, objetivando o desempenho esportivo. Contudo, outras atividades-meio também deveriam ter sido melhor estruturadas, como a Gestão e o Marketing. O bom desenvolvimento dessas áreas afeta diretamente o resultado esportivo, pois leva a uma melhor retenção e obtenção de patrocínios, o que gera mais receita a longo prazo e de forma contínua a ser usada em benefício dos atletas”, explica o mestrando.
Escultura do logo dos Jogos de 2016 no Parque Olímpico do Rio de Janeiro. Foto: Cavalo Marinho
O pesquisador também ressalta a necessidade de uma maior aproximação das entidades esportivas com as empresas privadas, tendo em vista a diminuição das contribuições por parte das empresas públicas devido a oscilações e mudanças em políticas governamentais. Além disso, ressaltam-se as crises enfrentadas por algumas das entidades esportivas frente a denúncias de irregularidades, corrupção e falta de credibilidade. Neste ponto, o investimento em Gestão e Marketing também seria um fator essencial para a superação das dificuldades.
Premiação
O estudo, intitulado “Evolução do número e valor dos patrocínios das entidades brasileiras de administração do desporto no período 2014-2018”, obteve o primeiro lugar no IV Concurso de Artigos Científicos da Comissão do Esporte da Câmara dos Deputados. O trabalho foi desenvolvido por meio do Projeto Pesquisa e Informação da Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN), em parceria com o GEPAE/LAGECOM da EEFEUSP. O artigo completo tem previsão de publicação em janeiro de 2022 na Revista E-Legis - Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação da Câmara dos Deputados.