Estimulação cerebral a favor do desempenho esportivo e recuperação de atletas

 

Dentre os tratamentos médicos atuais, a Neuromodulação Não-Invasiva tem demonstrado resultados promissores na dor crônica, em transtornos neurológicos e na reabilitação. O método consiste na estimulação cerebral (elétrica e magnética) visando modificar a atividade do sistema nervoso humano. Além do contexto médico, algumas dessas técnicas surgem como estratégias promissoras no esporte, podendo potencializar o desempenho e a recuperação de atletas. O NeuroSports Lab, coordenado pelo Prof. Dr. Alexandre Moreira, é um dos grupos pioneiros no Brasil a realizar estudos nessa linha dentro do contexto esportivo.

 

NeuroSports Lab, da EEFE, é um dos pioneiros ao usar estimulação cerebral em estudos no contexto esportivo

Sobre o procedimento

Uma das técnicas utilizadas no Laboratório é a Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC), na qual dois eletrodos são posicionados no couro cabeludo. Esses eletrodos emitem uma corrente elétrica de baixa intensidade, mantida, em geral, durante um período de 10 a 20 minutos.

O procedimento pode facilitar ou inibir a atividade dos neurônios na região da aplicação, o que resulta na modulação do córtex cerebral e reorganização neuroplástica. Isso quer dizer que a técnica influencia na capacidade e seletividade de resposta dos neurônios para manter as atividades cerebrais espontâneas frente aos estímulos internos e externos. Segundo pesquisas realizadas no NeuroSports Lab, é possível modificar a atividade de redes neurais de determinadas regiões cerebrais responsáveis pela recuperação do atleta ou pela melhoria do seu desempenho.

 Na Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC), dois eletrodos são posicionados no couro cabeludo.

Alguns sujeitos que recebem a estimulação costumam sentir apenas uma leve coceira, pinicar ou formigamento nos primeiros segundos do procedimento. Os efeitos posteriores podem durar dezenas de minutos até horas, dependendo da intensidade da corrente elétrica aplicada e do tempo de estimulação. Por isso, a ETCC é considerada uma técnica de neuromodulação não-invasiva segura, tolerável, e uma das técnicas mais promissoras devido a seu custo relativamente baixo, facilidade de uso e alta portabilidade.

Primeiros resultados

Em um dos estudos publicados, foi observado um aumento de 4% no desempenho de ciclistas, com uma redução de percepção de esforço para a realização da tarefa estabelecida. Esse trabalho foi o primeiro a testar a eficácia da ETCC em atletas, durante uma atividade de ciclismo. Já em artigos mais recentes do NeuroSports Lab, publicados em 2021, foi testado pela primeira vez no esporte de alto rendimento o potencial uso da ETCC como estratégia de recuperação em atletas profissionais de futebol masculino e feminino.

Estudos sugerem melhoras no desempenho esportivo e na recuperação de atletas.

Nos dois trabalhos, os sujeitos foram submetidos a aplicações da ETCC na região do córtex pré-frontal dorsolateral, relacionado a processamento cognitivo, funções emocionais, sentimentos e percepções. O procedimento, realizado após jogos oficiais, levou a alterações positivas em medidas de bem-estar e em indicadores da atividade autonômica, sugerindo o potencial de melhorar a recuperação dos atletas.

Estudos em andamento

Atualmente, o grupo desenvolve outros trabalhos no esporte, como por exemplo,  com atletas profissionais de basquetebol feminino. O objetivo deste estudo em andamento é examinar o impacto da ETCC sobre a fadiga mental e desempenho técnico, e também sobre a estratégia visual das atletas e sua relação com  o desempenho do arremesso (lance livre). 

Neste caso, outras técnicas neuroergonômicas são combinadas para uma análise mais completa, com monitoramento da atividade elétrica cerebral (EEG)  e muscular (EMG), e o uso da ETCC de alta definição (ETCC-HD). Também é utilizado o equipamento eye tracker para medir o comportamento do olhar. Em resultados preliminares, foi possível observar alterações no processamento de informação no sistema nervoso central e na estratégia de fixação do olhar para programar o movimento. 

Atleta de basquetebol participante de estudo no NeuroSports Lab

A Neuromodulação Não-Invasiva já é utilizada em diferentes modalidades esportivas, como no futebol, basquetebol, ciclismo, futebol americano, entre outras. Porém, no Brasil, sua aplicação ainda é pouco explorada. O Prof. Dr. Alexandre Moreira explica que, apesar do alto potencial e da aparente facilidade de aplicação, em particular da ETCC, a prática deve ser supervisionada por profissionais com largo conhecimento sobre o assunto.

Equipamentos utilizados

Conheça os aparelhos utilizados pelo laboratório na apresentação abaixo:

Publicação de capítulo em livro internacional

Sobre as questões relacionadas à aplicação da ETCC no contexto esportivo, o docente publicou recentemente, em coautoria com outros colegas da área, um capítulo em livro internacional que é referência em neuromodulação. Intitulado “tDCS in Exercise, Sport Performance, and Recovery Process”, o texto integra a segunda edição da obra “Transcranial Direct Current Stimulation in Neuropsychiatric Disorders”. Para acessar, clique aqui.  

Prof. Dr. Alexandre Moreira (em pé) é o coordenador do Laboratório

O NeuroSports Lab também conta com a participação e colaboração dos pesquisadores Prof. Dr. Alexandre Hideki Okano (UFABC), do Prof. Dr. Edgard Morya (Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra), do Prof Abrahão Baptista (UFABC), o Prof Marom Bikson (The City College of New York) e o Prof. Dr. Li Li Min (Unicamp). O grupo tem o apoio do Núcleo de Assistência e Pesquisa em Neuromodulação (Rede NAPeN) e do Instituto Brasileiro de Neurociências e Neurotecnologia (BRAINN / CEPID-FAPESP).

 

Desenvolvido por EEFE-USP